2009/11/30

M7


Voltaire, por Jean-Antoine Houdon



CAPÍTULO V
Da tempestade, naufrágio, terremoto, e do que sucedeu ao doutor Pangloss, a Cândido e ao anabatista Jaques.


" — Metade dos passageiros, enfraquecidos, agoniados com a inconcebível indisposição em que a instabilidade de um navio deixa a todos os nervos e humores do corpo, agitados em sentidos contrários, não tinham nem mesmo forças para inquietar-se com o perigo. A outra metade soltava gritos e rezava; as velas estavam rotas, os mastros quebrados, o navio fendido. Trabalhava quem pudesse, ninguém se entendia, ninguém comandava, o anabatista auxiliava um pouco a manobra; achava-se no convés; um marinheiro furioso bate-lhe rudemente e derruba-o sobre as pranchas, mas, com o golpe que lhe deu, caiu ele próprio para fora do navio, ficando suspenso a um toco de mastro. O bom Jaques corre em seu auxílio, ajuda-o a subir e, com o esforço que faz, é precipitado no mar, sem que o marinheiro fizesse o mínimo gesto para salvá-lo. Cândido aproxima-se, vê o seu benfeitor que reaparece um momento à tona e é tragado para sempre. Quer lançar-se ao mar, mas Pangloss lho impede, provando-lhe que a enseada de Lisboa fora feita expressamente para afogar o anabatista. Enquanto o provava a priori, o navio parte-se ao meio e todos perecem, com exceção de Pangloss, de Cândido e do brutal marinheiro que afogara o virtuoso anabatista; o facínora nadou até a margem, onde Pangloss e Cândido arribaram, agarrados a uma tábua.
Depois que se refizeram um pouco, encaminharam-se para Lisboa; restava-lhes algum dinheiro, com o qual esperavam salvar-se da fome, depois de haverem escapado à tempestade.
Mal entravam na cidade, chorando a morte do benfeitor, quando sentem o solo tremer sob os seus pés; o mar, furioso, galga o porto e despedaça os navios que ali me acham ancorados. Turbilhões de chama e cinza cobrem as ruas e praças públicas; as casas desabam; abatem-se os tetos sobre os alicerces que se abalam; trinta mil habitantes são esmagados sob as ruínas. Assobiando e praguejando, dizia consigo o marinheiro: – Muito há que aproveitar aqui. – Qual poderá ser a razão suficiente deste fenômeno? – indagava Pangloss.
Chegou o último dia do mundo! exclamava Cândido. O marinheiro corre imediatamente para o meio dos destroços, afronta a morte em busca de dinheiro, acha-o, embriaga-se; depois de cozinhar a bebedeira, compra os favores da primeira rapariga de boa vontade que encontra sobre as ruínas das casas e em meio dos mortos e moribundos. Enquanto isto, Pangloss puxava-o pela manga. – Meu amigo – dizia-lhe, – isto não está direito, ofendes a razão universal, empregas muito mal o teu tempo. – Com os diabos! – responde o outro, – sou marinheiro e nasci em Batávia; marchei quatro vezes sobre o crucifixo, em quatro viagens que fiz ao Japão; e ainda me vens com a razão universal!
Alguns estilhaços de pedra haviam ferido Cândido, que se achava estendido no meio da rua e coberto de destroços.
— Ai! – dizia ele a Pangloss, consegue-me um pouco de vinho e de óleo, que estou morrendo.
— Este terremoto não é novidade nenhuma – respondeu Pangloss. – A cidade de Lima experimentou os mesmos tremores de terra no ano passado; iguais causas, iguais efeitos: há com certeza uma corrente subterrânea de enxofre, desde Lima até Lisboa.
— Nada mais provável – respondeu Cândido, – mas, por amor de Deus, arranja-me óleo e vinho.
— Como, provável? – replicou. – Sustento que é a coisa mais demonstrada que existe.
Cândido perdeu os sentidos, e Pangloss trouxe-lhe um pouco de água de uma fonte vizinha.
No dia seguinte, havendo encontrado alguma provisão de boca em meio aos escombros, repararam um pouco as forças. Em seguida puseram-se a trabalhar como os outros para auxiliar os habitantes escapados à morte. Alguns cidadãos por eles socorridos deram-lhes o melhor almoço que poderiam encontrar em tais circunstâncias. Verdade que a refeição era triste; os convivas regavam o pão com lágrimas. Mas Pangloss consolou-os, assegurando-lhes que as coisas não poderiam ser de outra maneira: “Pois tudo isto – dizia ele – é o que há de melhor. Pois, se há um vulcão em Lisboa, não poderia estar noutra parte. Pois é impossível que as coisas não estejam onde estão. Pois tudo está bem”.
Um homenzinho de preto, familiar da Inquisição, que se achava a seu lado, tomou polidamente a palavra e disse:
— Pelo visto, o senhor não crê no pecado original; pois, se tudo está o melhor possível, não houve nem queda, nem castigo.
— Peço humildemente perdão a Vossa Excelência – disse Pangloss ainda mais polidamente, – pois a queda do homem e a maldição entravam necessariamente no melhor dos mundos possíveis.
— O senhor não crê então na liberdade? – perguntou o familiar.
— Vossa Excelência me desculpará – disse Pangloss; – a liberdade pode subsistir com a necessidade absoluta; pois era necessário que fôssemos livres, porque enfim a liberdade determinada...
Pangloss estava no meio da frase, quando o familiar fez um sinal de cabeça para o seu lacaio, que lhe servia vinho do Porto."


CAPÍTULO VI
De como se fez um belo auto-de-fé para evitar os terremotos, e de como Cândido foi açoitado.


"Depois do tremor de terra que destruiu três quartas partes de Lisboa, os sábios do país não encontraram meio mais eficaz para prevenir uma ruína total do que oferecer ao povo um belo auto-de-fé; foi decidido pela Universidade de Coimbra que o espetáculo de algumas pessoas queimadas a fogo lento, em grande cerimonial, era um infalível segredo para impedir que a terra se pusesse a tremer.
Tinham, pois, prendido um biscainho que casara com a própria comadre, e dois portugueses que, ao comer um frango, lhe haviam retirado a gordura: vieram, depois do almoço, prender o doutor Pangloss e o seu discípulo Cândido, um por ter falado e o outro por ter escutado com ar de aprovação: foram ambos conduzidos em separado para apartamentos extremamente frescos, onde nunca se era incomodado pelo sol; oito dias depois vestiram-lhe um sambenito e ornaram-lhe a cabeça com mitras de papel: a mitra e o sambenito de Cândido eram pintados de chamas invertidas e diabos que não tinham cauda nem garras; mas os diabos de Pangloss tinham cauda e garras, e as flamas eram verticais. Assim vestidos, marcharam em procissão, e ouviram um sermão muito patético, seguido de uma bela música em fabordão. Cândido foi açoitado em cadência, enquanto cantavam; o blacainho e os dois homens que não tinham querido comer gordura foram queimados, e Pangloss enforcado, embora não fosse esse o costume. No mesmo dia a terra tremeu de novo, com espantoso fragor.
Cândido, em pânico, desvairado, todo ensangüentado e palpitante, dizia consigo: “Se este é o melhor dos mundos possíveis, como não serão os outros! Se eu apenas fosse açoitado, como entre os búlgaros, ainda passava! Mas tu, meu querido Pangloss, o maior dos filósofos, ver-te enforcar sem saber por quê! E tu, meu querido anabatista, o melhor dos homens, ver-te afogado à vista do porto! E tu, ó Cunegundes, ó pérola. das donzelas, era preciso que te abrissem o ventre?!”
E assim doutrinado, açoitado, absolvido e abençoado, mal sustendo-se nas pernas, vinha ele de volta, quando uma velha o abordou e disse-lhe: “Tem coragem, meu filho, e segue-me”.in Cândido, de Voltaire.

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Comte Mathieu-Louis Molé, por Jean-Auguste-Dominique Ingres, 1834.

jeudi 10 décembre 2009: "Portrait du Comte Molé"

"Le 10 décembre 2009, le musée du Louvre a fêté l’entrée officielle d’un chef d’œuvre du grand portraitiste français Jean-Auguste-Dominique Ingres.
Il s’agit du Portrait du Comte Mathieu-Louis Molé, peint en 1834, qui fait figure d’incontournable dans l’art du portrait politique.
Le modèle, Mathieu-Louis Molé, né en 1781 dans une famille de magistrats parisiens, fut un politicien accompli, austère et rigoureux. Il occupa tour à tour les plus hautes fonctions de l’Etat : préfet, conseiller d’Etat, président du Conseil, député et enfin ministre. Il entra également à l’Académie française en 1840. Ingres l’a représenté calme et mélancolique, plein de cette assurance sereine qui est la marque des grands hommes.
Cette œuvre empreinte de solennité et de poésie rejoindra les collections du Département des Peintures et complétera, aux côtés des portraits de Monsieur Bertin et du Duc d’Orléans, un magnifique triptyque d’hommes d’Etats peint par Ingres entre 1832 et 1842.
Jusqu’alors en mains privées, le portrait du Comte Molé a pu être acquis par le Louvre grâce à une véritable Union Sacrée entre des acteurs publics et des entreprises privées. Eiffage, la Banque de France, la Société des Amis du Louvre et Mazars ont ainsi rendu possible la conservation sur le territoire français d’une œuvre magistrale ainsi que sa présentation aux millions de visiteurs du musée.
L’acquisition est la plus importante jamais réalisée par le Louvre à ce jour."

, Retrato do Senhor Louis-François Bertin, por Jean-Auguste-Dominique Ingres, Museu do Louvre.
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Jeanne-Antoinette Poisson, Marquise de Pompadour, mais conhecida como Madame de Pompadour -

2009/11/06