2011/02/02

.A Europa na Baixa Idade Média

No primeiro quartel do século XIII, a Europa é um território de múltiplas facetas políticas. Dado fundamental: o habitante deste continente define-se, sobretudo, por um sentimento de pertença. Em primeiro lugar, pertença ao senhorio ou a uma comuna, entidades locais de poder. Em segundo lugar, pertença a um reino. Têm origem medieval as fronteiras de vários Estados cristãos da Europa Ocidental (por exemplo Portugal, Inglaterra, França), o que transforma, automaticamente, os seus habitantes em súbditos. Menos claro será o sentimento de pertença ao Santo Império Romano-Germânico, correspondente, grosso modo, à Alemanha e Norte de Itália actuais. O Império procurava restaurar o sonho de unidade perdido aquando da destruição do Império Romano do Ocidente (476). Porém a coroação de Otão I, em 962, não constituiu acto suficiente para legitimar a chefia sobre uma tão vasta região.

Os indivíduos integravam-se, tal como a nível do espaço político, em estruturas predefinidas também a nível da religião. Difundido no tempo do Império Romano e consolidado pelos reinos bárbaros evangelizados, o Cristianismo estende-se progressivamente pela Europa até ao Leste europeu. Porém, duas forças ameaçam a sua estabilidade e o seu poderio: por um lado, o Islão e o seu poderoso império mediterrânico; por outro lado, Bizâncio e a sua Igreja que, de forma veemente, rejeita a supremacia romana. As Cruzadas, no século XIII, atacariam ambos os opositores. Na Península Ibérica, as lutas de Reconquista cruzaram-se, historicamente, com o processo de independência de Portugal e com as rivalidades entre os diversos reinos ibéricos.

O legado da cultura clássica

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A Antiguidade Clássica marcou de tal modo a civilização ocidental que ainda hoje vivemos imersos em referências greco-latinas. Como sabemos, o sistema jurídico deriva da lei romana, as línguas românicas derivam do latim, a ideia de História é grega. Da Antiguidade herdámos, igualmente, o teatro, a filosofia, os jogos olímpicos… E o que se passa em relação à arte? São incontáveis os momentos em que, ao longo da História, se imitou e recriou a arte clássica. Esta permaneceu como paradigma de beleza. De todos esses momentos, o mais citado, pela abrangência espacio-temporal alargada e pela criatividade demonstrada é, sem dúvida, o Renascimento. Mas também a Idade Média soube preservar o legado clássico, de que hoje somos herdeiros.  E não só. Nos últimos três séculos a civilização ocidental comprazia-se em ressuscitar os modelos clássicos. Eis alguns exemplos:

1 - O ímpeto coleccionista seduziu vários intelectuais dos séculos XVIII e XIX, como Charles Townley. O conjunto das peças romanas, representado na pintura, viria a ser adquirido, em 1808, pelo British Museum, onde ainda se encontra (em 1816 o mesmo museu adquiriu o conjunto escultórico do Pártenon). As estátuas preenchem profusamente o espaço da biblioteca como se fossem amigos e quase parecem ter o tom da pele humana.

2- Esta cópia em tamanho real do Pártenon na cidade de Nashville, nos EUA, foi inicialmente construída em madeira e gesso, para a Exposição de 1897, e substituída por outra em cimento, em 1931. Com apenas 3 mm de erro, é um exemplo de arte como pura imitação.  

3 –  Um aproveitamento do monumento ao serviço do consumismo associado à réplica do Pártenon.


4 - Napoleão Bonaparte mandou erigir o Arco de Triunfo na Place d´Étoile para celebrar as vitórias militares. O monumento, realizado a uma escala superior à dos arcos de triunfo romanos, foi concebido em 1806 por J-F Chalgrin e foi completado por G. A. Blouet, já depois da era napoleónica, em 1836. A avenida que parte do Arco de Triunfo – les Champs-Élisées – cria uma linha de observação que maximiza o efeito de monumentalidade do edifício de inspiração romana.

5 – Inspirado no templo grego, o Supremo Tribunal dos EUA é um edifício construído em mármore branca, da autoria de Cass Gilbert e terminado em 1935. O frontão esculpido representa a “liberdade no trono” sob o olhar vigilante da “Ordem” e da “Autoridade”. A arte clássica pôde, assim, exercer, no passado recente, uma função legitimadora em relação a uma democracia recente, através da imitação artística do modelo presente na democracia mais antiga do mundo.