2008/04/21
Entrevista ao Capitão Salgueiro Maia
Salgueiro Maia nasceu em Castelo de Vide em 1944. Em 1964 ingressa na Academia Militar, sendo promovido a capitão em 1970. Em 25 de Abril avança sobre Lisboa obrigando à rendição de Marcelo Caetano. Faleceu em 1992.
Clube de Jornalismo – O que o levou a aderir ao movimento das forças armadas?
Salgueiro Maia – Porque vivíamos numa ditadura e os nossos jovens eram enviados para a guerra, era preciso mudar esta situação.
C.J. – O movimento fez alguns contactos com as rádios nacionais. De que modo é que elas contribuíram para o sucesso dos planos elaborados?
S.M. – Serviram de sinal para todos os implicados no movimento. Às 22:55h passou na rádio a canção de Paulo de Carvalho «E Depois do Adeus», foi o sinal para assaltarem o Rádio Clube Português. À meia-noite e vinte toca a canção de Zeca Afonso «Grândola, Vila Morena». É o segundo sinal, o M.F.A. estava em marcha, já nada o podia travar.
C.J. – A seguir às rádios qual era o próximo local a controlar?
S.M. – Era o aeroporto de Lisboa que ficou sobe o nosso poder às 4:20h.
C.J. – Nesta altura o capitão ainda estava em Santarém ou já tinha partido?
S.M. – Deixei a Escola Prática de Cavalaria em Santarém às 3:30h com o objectivo de cercar o Terreiro do Paço.
C.J. – A que horas chegou ao Terreiro do Paço?
S.M. – Cheguei por volta das seis da manhã.
C.J. – A partir desta altura a sua acção confunde-se com a própria história do 25 de Abril. Concorda com esta afirmação?
S.M. – O meu papel foi importante pois fui o militar que esteve exposto à maior parte das situações de perigo.
C.J. – Entretanto a PIDE toma conhecimento do movimento. Qual foi a atitude desta polícia perante a situação?
S.M. – Telefonaram a Marcelo Caetano aconselhando-o a refugiar-se no Quartel do Carmo.
C.J. – Entretanto tiveram problemas com outras forças militares fiéis ao regime?
S.M. – Sim, tivemos alguns confrontos mas a maior parte dessas forças acabaram por aderir às Forças Armadas.
C.J. – Quando o Capitão se dirige ao Quartel do Carmo já se vivia na rua um ambiente de revolução. Como o descreve?
S.M. – Era um ambiente indescritível, os cravos vermelhos a ser enfiados nos canos das G3, os populares a vitoriavam os soldados. Quando cheguei ao Quartel do Carmo vi-me envolvido por uma multidão que enrouquecia a cantar o Hino Nacional. Foi o momento mais digno da minha vida.
C.J. – Qual foi a sua acção junto do Quartel do Carmo?
S.M. – Intimei a guarnição que lá se encontrava a render-se e a entregar Marcelo Caetano. A minha ordem não foi obedecida e então abri fogo sobre o edifício. Entrei lá dentro e dialoguei com o Presidente do Conselho. Mais tarde chega o General Spinola e Marcelo Caetano foi enviado para o asilo.
C.J. – A partir de que momento considera a revolução ganha?
S.M. – Após a rendição de Marcelo Caetano e a sua saída do Quartel.
C.J. – A Junta de Salvação Nacional participou e ditou aos portugueses as leis da revolução. Como se sentiu a partir desse momento?
S.M. – Senti que eu e os meus colegas tinham sido relegados para segundo plano, nós que tínhamos arriscado tudo a partir desse altura ficamos na sombra.
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