2009/12/17

102 anos!

"Não é o ângulo recto que me atrai, nem a linha recta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual, a curva que encontro nas montanhas do meu país. No curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo, o universo curvo de Einstein." (Oscar Niemeyer)

Museu Oscar Niemeyer, Curitiba, Brasil, 2002.

Para Alexandra Santos


"A morte de Sócrates", por Jacques Louis David, 1787, in Metropolitan Museum of Art, NYC.

2009/11/30

M7


Voltaire, por Jean-Antoine Houdon



CAPÍTULO V
Da tempestade, naufrágio, terremoto, e do que sucedeu ao doutor Pangloss, a Cândido e ao anabatista Jaques.


" — Metade dos passageiros, enfraquecidos, agoniados com a inconcebível indisposição em que a instabilidade de um navio deixa a todos os nervos e humores do corpo, agitados em sentidos contrários, não tinham nem mesmo forças para inquietar-se com o perigo. A outra metade soltava gritos e rezava; as velas estavam rotas, os mastros quebrados, o navio fendido. Trabalhava quem pudesse, ninguém se entendia, ninguém comandava, o anabatista auxiliava um pouco a manobra; achava-se no convés; um marinheiro furioso bate-lhe rudemente e derruba-o sobre as pranchas, mas, com o golpe que lhe deu, caiu ele próprio para fora do navio, ficando suspenso a um toco de mastro. O bom Jaques corre em seu auxílio, ajuda-o a subir e, com o esforço que faz, é precipitado no mar, sem que o marinheiro fizesse o mínimo gesto para salvá-lo. Cândido aproxima-se, vê o seu benfeitor que reaparece um momento à tona e é tragado para sempre. Quer lançar-se ao mar, mas Pangloss lho impede, provando-lhe que a enseada de Lisboa fora feita expressamente para afogar o anabatista. Enquanto o provava a priori, o navio parte-se ao meio e todos perecem, com exceção de Pangloss, de Cândido e do brutal marinheiro que afogara o virtuoso anabatista; o facínora nadou até a margem, onde Pangloss e Cândido arribaram, agarrados a uma tábua.
Depois que se refizeram um pouco, encaminharam-se para Lisboa; restava-lhes algum dinheiro, com o qual esperavam salvar-se da fome, depois de haverem escapado à tempestade.
Mal entravam na cidade, chorando a morte do benfeitor, quando sentem o solo tremer sob os seus pés; o mar, furioso, galga o porto e despedaça os navios que ali me acham ancorados. Turbilhões de chama e cinza cobrem as ruas e praças públicas; as casas desabam; abatem-se os tetos sobre os alicerces que se abalam; trinta mil habitantes são esmagados sob as ruínas. Assobiando e praguejando, dizia consigo o marinheiro: – Muito há que aproveitar aqui. – Qual poderá ser a razão suficiente deste fenômeno? – indagava Pangloss.
Chegou o último dia do mundo! exclamava Cândido. O marinheiro corre imediatamente para o meio dos destroços, afronta a morte em busca de dinheiro, acha-o, embriaga-se; depois de cozinhar a bebedeira, compra os favores da primeira rapariga de boa vontade que encontra sobre as ruínas das casas e em meio dos mortos e moribundos. Enquanto isto, Pangloss puxava-o pela manga. – Meu amigo – dizia-lhe, – isto não está direito, ofendes a razão universal, empregas muito mal o teu tempo. – Com os diabos! – responde o outro, – sou marinheiro e nasci em Batávia; marchei quatro vezes sobre o crucifixo, em quatro viagens que fiz ao Japão; e ainda me vens com a razão universal!
Alguns estilhaços de pedra haviam ferido Cândido, que se achava estendido no meio da rua e coberto de destroços.
— Ai! – dizia ele a Pangloss, consegue-me um pouco de vinho e de óleo, que estou morrendo.
— Este terremoto não é novidade nenhuma – respondeu Pangloss. – A cidade de Lima experimentou os mesmos tremores de terra no ano passado; iguais causas, iguais efeitos: há com certeza uma corrente subterrânea de enxofre, desde Lima até Lisboa.
— Nada mais provável – respondeu Cândido, – mas, por amor de Deus, arranja-me óleo e vinho.
— Como, provável? – replicou. – Sustento que é a coisa mais demonstrada que existe.
Cândido perdeu os sentidos, e Pangloss trouxe-lhe um pouco de água de uma fonte vizinha.
No dia seguinte, havendo encontrado alguma provisão de boca em meio aos escombros, repararam um pouco as forças. Em seguida puseram-se a trabalhar como os outros para auxiliar os habitantes escapados à morte. Alguns cidadãos por eles socorridos deram-lhes o melhor almoço que poderiam encontrar em tais circunstâncias. Verdade que a refeição era triste; os convivas regavam o pão com lágrimas. Mas Pangloss consolou-os, assegurando-lhes que as coisas não poderiam ser de outra maneira: “Pois tudo isto – dizia ele – é o que há de melhor. Pois, se há um vulcão em Lisboa, não poderia estar noutra parte. Pois é impossível que as coisas não estejam onde estão. Pois tudo está bem”.
Um homenzinho de preto, familiar da Inquisição, que se achava a seu lado, tomou polidamente a palavra e disse:
— Pelo visto, o senhor não crê no pecado original; pois, se tudo está o melhor possível, não houve nem queda, nem castigo.
— Peço humildemente perdão a Vossa Excelência – disse Pangloss ainda mais polidamente, – pois a queda do homem e a maldição entravam necessariamente no melhor dos mundos possíveis.
— O senhor não crê então na liberdade? – perguntou o familiar.
— Vossa Excelência me desculpará – disse Pangloss; – a liberdade pode subsistir com a necessidade absoluta; pois era necessário que fôssemos livres, porque enfim a liberdade determinada...
Pangloss estava no meio da frase, quando o familiar fez um sinal de cabeça para o seu lacaio, que lhe servia vinho do Porto."


CAPÍTULO VI
De como se fez um belo auto-de-fé para evitar os terremotos, e de como Cândido foi açoitado.


"Depois do tremor de terra que destruiu três quartas partes de Lisboa, os sábios do país não encontraram meio mais eficaz para prevenir uma ruína total do que oferecer ao povo um belo auto-de-fé; foi decidido pela Universidade de Coimbra que o espetáculo de algumas pessoas queimadas a fogo lento, em grande cerimonial, era um infalível segredo para impedir que a terra se pusesse a tremer.
Tinham, pois, prendido um biscainho que casara com a própria comadre, e dois portugueses que, ao comer um frango, lhe haviam retirado a gordura: vieram, depois do almoço, prender o doutor Pangloss e o seu discípulo Cândido, um por ter falado e o outro por ter escutado com ar de aprovação: foram ambos conduzidos em separado para apartamentos extremamente frescos, onde nunca se era incomodado pelo sol; oito dias depois vestiram-lhe um sambenito e ornaram-lhe a cabeça com mitras de papel: a mitra e o sambenito de Cândido eram pintados de chamas invertidas e diabos que não tinham cauda nem garras; mas os diabos de Pangloss tinham cauda e garras, e as flamas eram verticais. Assim vestidos, marcharam em procissão, e ouviram um sermão muito patético, seguido de uma bela música em fabordão. Cândido foi açoitado em cadência, enquanto cantavam; o blacainho e os dois homens que não tinham querido comer gordura foram queimados, e Pangloss enforcado, embora não fosse esse o costume. No mesmo dia a terra tremeu de novo, com espantoso fragor.
Cândido, em pânico, desvairado, todo ensangüentado e palpitante, dizia consigo: “Se este é o melhor dos mundos possíveis, como não serão os outros! Se eu apenas fosse açoitado, como entre os búlgaros, ainda passava! Mas tu, meu querido Pangloss, o maior dos filósofos, ver-te enforcar sem saber por quê! E tu, meu querido anabatista, o melhor dos homens, ver-te afogado à vista do porto! E tu, ó Cunegundes, ó pérola. das donzelas, era preciso que te abrissem o ventre?!”
E assim doutrinado, açoitado, absolvido e abençoado, mal sustendo-se nas pernas, vinha ele de volta, quando uma velha o abordou e disse-lhe: “Tem coragem, meu filho, e segue-me”.in Cândido, de Voltaire.

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Comte Mathieu-Louis Molé, por Jean-Auguste-Dominique Ingres, 1834.

jeudi 10 décembre 2009: "Portrait du Comte Molé"

"Le 10 décembre 2009, le musée du Louvre a fêté l’entrée officielle d’un chef d’œuvre du grand portraitiste français Jean-Auguste-Dominique Ingres.
Il s’agit du Portrait du Comte Mathieu-Louis Molé, peint en 1834, qui fait figure d’incontournable dans l’art du portrait politique.
Le modèle, Mathieu-Louis Molé, né en 1781 dans une famille de magistrats parisiens, fut un politicien accompli, austère et rigoureux. Il occupa tour à tour les plus hautes fonctions de l’Etat : préfet, conseiller d’Etat, président du Conseil, député et enfin ministre. Il entra également à l’Académie française en 1840. Ingres l’a représenté calme et mélancolique, plein de cette assurance sereine qui est la marque des grands hommes.
Cette œuvre empreinte de solennité et de poésie rejoindra les collections du Département des Peintures et complétera, aux côtés des portraits de Monsieur Bertin et du Duc d’Orléans, un magnifique triptyque d’hommes d’Etats peint par Ingres entre 1832 et 1842.
Jusqu’alors en mains privées, le portrait du Comte Molé a pu être acquis par le Louvre grâce à une véritable Union Sacrée entre des acteurs publics et des entreprises privées. Eiffage, la Banque de France, la Société des Amis du Louvre et Mazars ont ainsi rendu possible la conservation sur le territoire français d’une œuvre magistrale ainsi que sa présentation aux millions de visiteurs du musée.
L’acquisition est la plus importante jamais réalisée par le Louvre à ce jour."

, Retrato do Senhor Louis-François Bertin, por Jean-Auguste-Dominique Ingres, Museu do Louvre.
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Jeanne-Antoinette Poisson, Marquise de Pompadour, mais conhecida como Madame de Pompadour -

2009/11/06

2009/10/13

M1




O vaso Pronomos, 410-400 a.C., 75 cm de altura, estilisticamente pertence ao "estilo" das figuras vermelhas, a decoração concentra-se no gargalo, nas asas em forma de volutas e no bojo. A importância do vaso reside no seu valor documental. Comemora os membros de uma companhia teatral, colocando-os em paralelo com Dioniso, além da numerosa informação sobre os actores, as suas vestes e máscaras.


O grupo de Laocoonte, c. 160 a 130 a. C, obra conjunta de Hagesandro, Polidoro e Atanadoro, esta peça possui uma grande força expressiva pela composição orientada por diagonais que se cruzam.


Vitória de Samotrácia, c. de 200 a 190 a. C, 241 cm.


Hermes e Dioniso, c. 350 ou 380 a. C., por Praxíteles.


O Discóbolo (o corpo em tensão, face ao movimento iminente, contraria a serenidade do rosto, de uma beleza canónica), c. 450 a.C, por Míron.


O Diadúmeno (anatomia rigorosa e proporções perfeitas, a naturalidade da postura do atleta vitorioso, daí a fita à volta da cabeça, confere delicadeza e graça), c. 450 a.C, por Policleto.


O Dorífero, a representação do primeiro cânone (das sete cabeças, a proporção perfeita do corpo humano - Policleto.


O Dorífero (o lanceiro), por Policleto, c. 450-440 a. C.



Posídon (preparado para lançar o tridente), bronze, 209 cm.


O Auriga de Delfos, bronze, c. 180 cm.


KORAI.


KOUROI.


2009/10/12

M6




Túmulo do Papa Alexandre VII, 1673-1674, Basílica de S. Pedro, de Bernini



Estátuas da Colunata da Praça de S. Pedro, 1656-1667, Vaticano, de Bernini


O rapto de Proserpina por Plutão, 255 cm, 1621-1622, Galeria Borghese, Roma, de Bernini


Apolo e Dafne, 1625, 242 cm, Galeria Borghese, Roma, de Bernini


CAPELA CORNARO














Le Roi Danse


Filme de Gérard Corbiau que retrata a vida na corte de Luís XIV e o trabalho do compositor Lully. Luís XIV (1638-1715) sabia que a arte o engrandecia, Jean-Baptiste Lully (1632-1687) sabia que o Estado precisava da arte para assinalar exteriormente o seu poder, a sua grandeza.

2009/10/11

A Conversão de S. Paulo



As cores, quentes e terrosas, acentuam o carácter vigoroso da cena.
A luz focalizada atribui à obra um certo carácter irreal.
A composição é orientada pelas linhas, formadas pelos braços estendidos do apóstolo e pelo dorso do cavalo.

2009/09/23

3 anos de saudade = alunos

...

É urgente inventar a alegria,

Multiplicar as searas,

É urgente descobrir rosas e rios

E manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros e a luz

Impura, até doer.

É urgente o amor, é urgente

Permanecer.

Eugénio de Andrade

2009/05/31

Percursos para férias: o trilho do Condestável


Integrado no programa das VI Carrilheiras de Barroso, a Câmara de Montalegre promove no dia 31 de Maio, em Salto, o “Trilho do Condestável", percurso homologado pela Federação Portuguesa de Pedestrianismo (a partida ao trilho será dada por D. Duarte Pio de Bragança), que passa pelos sítios que a tradição associa à presença de D. Nuno Álvares Pereira, guerreiro e Senhor das Terras de Barroso.

2009: D. Nuno Álvares Pereira foi canonizado a 26 de Abril pelo Papa Bento XVI, 91 anos depois de ter sido beatificado;

2004: a Ordem do Carmo, onde o militar ingressou em 1422, e o Patriarcado de Lisboa decidiram retomar a defesa da causa de canonização, cujo processo foi reaberto a 13 de Julho de 2004, nas ruínas do Convento do Carmo, em Lisboa;

1940: Pio XII manifestou o desejo de canonizar o beato por decreto, mas logo abandonou a intenção, prosseguindo pelas vias normais;

1918: D. Nuno Álvares Pereira viveu entre 1360-1431 e foi beatificado pelo Papa Bento XV a 23 de Janeiro de 1918, tornando-se Beato Nuno de Santa Maria;


Em Salto casou D. Nuno Álvares Pereira, o «Santo Condestável» no século XIV, com D Leonor de Alvim dando origem à Casa Ducal de Bragança. A estátua do Condestável encontra-se em Salto desde 1922.

2009/05/18

Lembram-se?

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2009/05/12

«A Minha Genealogia Ilustrada»

EXEMPLOS DO QUE RECUPERAMOS...



































Relatório de Reflexão Critica
"A realização deste trabalho, e aqui, querendo ser transparente, pareceu-me, no inicio, um pouco descontextualizada, mas tal ideia rapidamente desapareceu, percebendo desta forma a real essência do trabalho. É certo que a pesquisa de dados e a sua recolha exigiu um longo e difícil trabalho. Na realização deste trabalho deparei-me com o problema da falta de dados, principalmente, da minha família paterna por terem emigrado (França, Alemanha, Suíça) e, ainda, pela separação provocada pelo tempo/mobilidades geográficas. Contudo através da realização deste trabalho registei acentuadas mutações nas vivências entre o tempo de hoje e o dos nossos antepassados (entre os séculos XIX/XX/XXI), nomeadamente quanto aos seguintes assuntos: valores morais (por ex: casamento/namoro); o papel da mulher (por ex: direito ao voto/trabalho); a educação (por ex: grau de escolaridade/ acesso ao ensino); sectores predominantes de trabalho (antigamente - agricultura/indústria); condições de vida (por ex: luz/água canalizada); saúde (por ex: acesso aos hospitais/médicos)...enfim pude fazer a diferenciação entre a sociedade dos meus bisavôs/avós, a dos meus pais e a da minha. Grande parte dessa informação foi-me cedida pelo meu avô materno, com quem me identifico profundamente, e aqui queria agradecer pela colaboração e paciência demonstrada. Uma das coisas que me ficou bem patente foi a idade: principalmente a dos meus bisavôs e avós, pois começaram a trabalhar com 5-8 anos, trabalhavam muitas vezes antes de ir para a escola e depois de regressar da escola! Ao pensar nos tempos de hoje, pode dizer-se, somos uns privilegiados, oportunidades que os nossos parentes não tiveram e que muitas vezes (nós) desperdiçamos. Ainda neste contexto queria referir, duas coisas, que acho de extrema importância realçar e de certa forma alertar, são elas a noção de família, nas gerações anteriores (a minha) estava muito mais enraizada do que nos dias de hoje, tendo-se vindo progressivamente a perder a união e o costume da reunião da família nas datas mais importantes; na segunda, destaco a falta de interesse pelas tradições, costumes e edifícios que contêm alguma história, atitudes com as quais se perde/desaparece a tão rica e variada cultura portuguesa. Além disso pude ainda compreender um pouco mais sobre a Guerra Colonial (1961/1974) e o posterior 25 de Abril de 1974. Desta forma enriqueci, não só a minha cultura, mas também, amadureci a minha opinião sobre a sociedade actual. Em suma, a elaboração deste trabalho, não teve apenas um carácter histórico (pesquisa de informações históricas/sociais) mas, também, permitiu a aproximação e o contacto com membros da minha família que não conhecia ou com os quais tinha pouco contacto, e assim perceber aquilo que sou hoje." (Tiago Matias, 11º H).





A Genealogia é o ramo da História que se dedica ao estudo das famílias, à sua origem e evolução, descrevendo as gerações em cadeia (em sentido ascendente ou descendente) e traçando, sempre que possível, as biografias dos seus membros.