SÍNTESE – ROMANTISMO
I - Romantismo, revolução e nacionalismo
Aquilo que determina o florescimento ou a decadência das artes, em qualquer época, é ainda um facto muito obscuro. Contudo, não resta dúvida de que, entre 1789 e 1848, a resposta tem de se ir buscar ao impacto da dupla revolução. Se uma só frase enganadora resumisse as relações do artista e da sociedade neste período, poderíamos dizer que a Revolução Francesa inspirou o artista pelo seu exemplo, a Revolução Industrial pelo seu horror e a sociedade burguesa, que emergiu de ambas, transformou a sua própria existência e modos de criação.
Durante este período, é um facto indesmentível que os artistas eram diretamente inspirados pelas questões públicas e que nelas se deixavam envolver. (…)
O elo entre as questões públicas e as artes é particularmente forte nos países em que se desenvolvia uma consciência nacional, ou em que se geravam movimentos de libertação ou de unificação nacional. Não é por mero acaso que o ressurgimento ou o dealbar das culturas eruditas nacionais da Alemanha, da Rússia, da Polónia, da Hungria, dos países escandinavos e doutras partes coincidiam – e em muitos casos seriam a sua primeira manifestação – com a afirmação da supremacia cultural da língua vernácula e do povo autóctone, contra uma cultura aristocrática cosmopolita que se servia frequentemente de um idioma estrangeiro.
É natural que tal nacionalismo tenha encontrado a sua
expressão cultural mais evidente na literatura e na música, ambas artes
públicas que podiam, além do mais, ir beber à poderosa herança criadora da
gente comum – a língua e o folclore.
HOBSBAWM, E. J., A Era das Revoluções (1789-1848),
Lisboa, Editorial Presença
II - A Arte do Romantismo
Ao varrer todos os vestígios das correntes neoclássicas anteriormente dominantes na literatura e na arte, o romantismo manifesta algo que constitui um dos signos essenciais da arte do século XIX: o espírito individualista. Afastando-se voluntariamente de todas as regras tradicionais, o romântico parece que busca o isolamento para se interrogar acerca dos mais graves problemas do homem (o do destino, o de Deus), quiçá esperançado em encontrar em si próprias revelações geniais.
Contudo o romantismo pressupõe, acima de tudo, um
estado de exaltação; nele não se concebe a serenidade. “Ser romântico é dar ao quotidiano um sentido elevado, ao conhecido,
o prestígio do que desconhece, ao finito, o esplendor do infinito (Novalis).
Pressupõe, pois, um exacerbamento passional (que não é
necessariamente de natureza amorosa). Os românticos cultivaram todas as manifestações da fantasia. Uma das suas ideias
fixas era a da morte, que veio a tornar-se, no período do romantismo, a grande
obsessão. Daí o interesse pela noite, que no período pré-romântico do século
anterior já aparecia como uma prefiguração da morte.
A fuga do real para o imaginário foi outro dos sintomas românticos. Sonha-se com países longínquos, e, pela imaginação, cada um se evade para o passado, em especial para a Idade Média, da qual se forjou uma ideia poética e vaga.
in PIJOAN, José,
História da Arte, Lisboa, Publicações alfa, vol. 8,
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