2012/03/23

11º - Ler nas férias


Síntese - Unidade e Diversidade da Sociedade Oitocentista

- O liberalismo político, triunfante em quase todos os Estados europeus no século XIX, instituiu um novo tipo de sociedade, baseado na igualdade jurídica de todos os cidadãos perante a lei, no respeito pelos direitos naturais dos homens e pela liberdade individual em todos os sectores. Este novo tipo de sociedade – a que se convencionou dar o nome de sociedade de classes – aceita como únicas diferenças as resultantes do poder económico, das capacidades individuais e da profissão de cada um. Admite, deste modo, a mobilidade ascensional e descensional. O nascimento perde importância como critério de diferenciação social, como acontecia na sociedade de ordens do Antigo Regime.
Esta sociedade de classes encontrava-se dividida em três estratos: classe alta (associada à alta burguesia, a grande burguesia empresarial e financeira); a classe média; a classe baixa (o proletariado).

- A alta burguesia (grupo relativamente homogéneo) ocupava-se de atividades industriais e comerciais, assim como de financeiras e políticas. As Revoluções Agrícola e Industrial e o triunfo do Liberalismo proporcionaram a esta burguesia o poder económico e político.
Na primeira metade do século XIX, caracteriza-a um estilo de vida e valores culturais que se aproximam da velha aristocracia nobiliárquica. Leva uma vida mundana e aparatosa, da se destaca a organização de bailes e grandes receções. Vive em residências apalaçadas, no campo ou na cidade, veste-se com elegância e de acordo com a moda, possui imensa criadagem, cultiva as aparências e preocupa-se com a reputação.

Progressivamente, esta alta burguesia vai ganhando consciência de classe, que a distancia quer da antiga aristocracia quer das classes inferiores suas contemporâneas. Afirma os seus próprios valores e comportamentos: o gosto pelo trabalho, a preocupação em poupar, a valorização do esforço pessoal, a importância dada à família e à educação vão-se impondo.
Apesar da imagem divulgada do self made man, era da burguesia que nascia a nova burguesia (o que constituía um entrave à igualdade de facto). O investimento na educação dos filhos, a transmissão dos bens familiares e a constituição de redes de solidariedade familiar levaram à formação de autênticas dinastias burguesas.


- Situação intermédia entre a classe dominante e as massas populares rurais ou urbanas, as classes médias eram, no século XIX, ainda muito incipientes (não obstante a sua contínua proliferação dos países desenvolvidos).

Caracterizada por uma profunda heterogeneidade (e daí preferir-se utilizar o plural, classes médias), era composta por pequenos comerciantes, empregados de loja, profissionais liberais (médicos, advogados, engenheiros, etc.) e funcionários ao serviço das empresas ou do Estado (os chamados colarinhos brancos).

Conservadoras e puritanas, as classes médias proliferam com o surto urbano e o consequente aumento do sector terciário (comércio e serviços ligados à educação, aos transportes, ao saneamento, etc.), assim como com o alargamento da instrução (a escolaridade primária obrigatória e gratuita torna-se algo comum nos países industrializados).
Orientam os seus comportamentos um conjunto de “virtudes públicas e domésticas”: são as defensoras dos “bons costumes”. O trabalho e a família são considerados os bastiões da sociedade. Defendem uma moral rígida, a ordem e a segurança públicas e demonstram respeito pelas convenções e pelas hierarquias. Procuram imitar os padrões de comportamento da alta burguesia e cultivam as aparências. Temem perder o emprego, mostram desconfiança em relação às classes populares e receiam a proletarização.


- A classe baixa (o proletariado), era o grupo social constituído por aqueles que tinham como único meio de subsistência a venda da sua força de trabalho, visto não terem acesso económico à propriedade.
A redução dos trabalhadores à condição de proletários foi uma consequência das transformações operadas no processo produtivo, agrícola e industrial, sob o signo do liberalismo económico e do capitalismo industrial. Assim, foi a industrialização, com o estabelecimento de grandes indústrias onde se implementaram as novas formas de racionalização do trabalho, que gerou a desvalorização da mão-de-obra e o surgimento do operariado proletário.
Usufruindo salários de miséria, porque submetidos à lei da oferta e da procura, os operários possuíam geralmente famílias numerosas (a prole), que viviam em precárias condições de habitação (nos subúrbios), onde a miséria, as doenças, a delinquência e o desregramento moral grassavam. Por sua vez, a insalubridade nas fábricas, os acidentes frequentes, o horário que rondava as 16 horas diárias, o desemprego constante agravado pela inexistência de mecanismos de apoio adequado e a exploração da mão-de-obra feminina e infantil constituíam condições de trabalho desumanas, marcadas pela exploração desenfreada da mão-de-obra.

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As precárias condições de vida e de trabalho do proletariado, fizeram emergir no seio dos operários a consciência colectiva da exploração a que se encontravam submetidos por parte da burguesia, e a ideia de que a reposição da justiça teria de ser conseguida através de um esforço de organização dos próprios operários – surgia assim o movimento operário.
De início, este movimento operário assumiu um carácter associativista, com a criação de organizações mutualistas de operários, de socorros mútuos. Posteriormente, o movimento assumiu uma feição mais violenta com o luddismo (destruição de máquinas, de fábricas e de outros bens do patronato). A insuficiência destas ações levou à formação de sindicatos, o instrumento de organização da classe operária por excelência, responsáveis pela realização de ações conscientes de reivindicação e de luta (negociações, manifestações, boicotes, greves).

- Um passo decisivo para a afirmação do movimento operário foi dado pelo aparecimento das doutrinas socialistas e pela sua articulação com os partidos políticos.
Na realidade, após as primeiras tentativas mais ou menos inconsistentes em torno da criação de cooperativas de produtores independentes, da extinção do Estado e da exploração do homem pelo homem (socialismo utópico: Proudhon, Saint-Simon, Robert Owen, Fourier), o socialismo científico ou marxista (Karl Marx, F. Engels) considerou a conquista do poder pelo operariado como a meta capaz de terminar com a exploração dos trabalhadores.
O marxismo defendia a abolição da propriedade privada, a nacionalização dos bens de produção e a criação de uma sociedade sem classes. Para tal, consideravam os marxistas, era necessário que o proletariado assumisse o comando político e económico (ditadura do proletariado).
O marxismo contribuiu também para a formação do materialismo histórico – conceção da história como o suceder de lutas de classes, de confrontos sociais entre opressores e oprimidos em busca da liberdade.
Um dos objetivos dos marxistas era a internacionalização do movimento operário, com a criação da Associação Internacional dos Trabalhadores (I Internacional: 1864-1876; II Internacional: 1889- 1914). Todavia, as divisões abertas no seu interior, entre marxistas, anarquistas (defendem a supressão de qualquer tipo de autoridade) e revisionistas (defendiam transformações sociais graduais e não violentas), juntamente com as tensões nacionalistas das vésperas da I Guerra Mundial (1914-18) acabaram por minar este objetivo.


A Explosão Populacional, a Expansão Urbana, Migrações Internas e Emigração
O século XIX registou por todo o mundo, particularmente na Europa, um extraordinário aumento demográfico, a ponto de se falar em “explosão demográfica” (regime demográfico de transição).
O crescimento populacional (mais forte nos países de maior desenvolvimento industrial e cultural, como a Inglaterra, a Holanda e a Bélgica, seguida da França do Norte e da Alemanha) foi causado, numa primeira fase, pelo acentuado recuo da mortalidade – enquanto a natalidade permanecia elevada.
A diminuição da mortalidade é explicada fundamentalmente, pela melhoria geral das condições de vida, resultante dos seguintes factores:
* do desenvolvimento económico produzido pela Revolução Industrial e suas implicações na produção agrícola, na revolução dos transportes e no alargamento dos mercados internos;
* da melhor alimentação, o que fortaleceu o organismo humano permitindo-lhe reagir com maior sucesso às doenças e às epidemias, ainda frequentes;
* do desenvolvimento científico-técnico, que permitiu o avanço da Medicina, com progressos na farmacologia e na vacinação;
* dos progressos na higiene individual e colectiva (difunde-se o uso do sabão e do vestuário em algodão, a prática do banho torna-se mais regular e estabelecem-se redes de saneamento público).
- O século XIX foi também um século de surto urbano. Como consequência da industrialização, as cidades cresceram a um ritmo muito acelerado (em número, em extensão e em quantidade de população). O rápido crescimento urbano do século XIX é atribuído aos seguintes factores:
* ao crescimento demográfico;
* às alterações económicas provocadas pelas transformações nos campos e pela industrialização (a mecanização dos campos e as alterações no tipo de propriedade contribuem para o desemprego rural. As cidades, centros industriais e comerciais que oferecem maiores possibilidades de emprego, absorvem a mão-de-obra que o campo liberta – êxodo rural);
* ao incremento e desenvolvimento dos transportes, nomeadamente os caminhos-de-ferro;
* ao fascínio que as modernidades e as comodidades que a vida citadina parecia oferecer, pela novidade das realizações culturais e recreativas, correspondendo ao ideal de promoção social.
A concentração populacional, das indústrias, do comércio e dos serviços, nos espaços citadinos, levantou problemas de difícil resolução, problemas esses que se fizeram sentir de forma mais grave ao nível:
* da habitação: o espaço torna-se pequeno para albergar uma população que cresce rapidamente;
* da circulação: o incremento dos transportes, aliado à elevada densidade populacional, cria problemas de tráfego nas antigas ruas estreitas e sinuosas;
* do abastecimento: de água (cujo consumo exigiu novos meios de captação, tratamento e distribuição), de combustíveis e de bens alimentares;
* do saneamento e da saúde pública: a forte densidade populacional e a insuficiência de infra-estruturas de higiene e de saneamento faziam proliferar as epidemias (como a cólera e a tuberculose).
* da delinquência e do desregramento (criminalidade, alcoolismo, violência doméstica, mendicidade, prostituição), causados pela miséria extrema e pelo desenraizamento das populações que afluíam à cidade.
Os problemas sentidos pelas cidades estiveram na origem de intervenções urbanísticas que alteraram a fisionomia da cidade:
* no centro, onde se encontram os edifícios governamentais e de negócios, criam-se redes de saneamento, pavimentam-se ruas, iluminam-se essas mesmas ruas (a gás ou a energia eléctrica), abrem-se espaços verdes, constroem-se áreas de lazer e de cultura;
* os bairros adjacentes prolongam o centro, servindo de área residencial para os ricos, para as elites urbanas;
* os subúrbios, “dormitórios” dos operários, caracterizados pela insalubridade das ruas e das habitações.
- O século XIX produziu, em todo o Mundo desenvolvido, impressionantes fluxos migratórios que, embora difíceis de contabilizar com precisão, são unanimemente reconhecidos como os maiores da História.
A Europa foi o continente que registou a maior mobilidade populacional, quer dentro quer fora das suas fronteiras (“explosão branca” no mundo). Este fenómeno migratório foi favorecido pelo elevado crescimento demográfico, pelas crises económicas (desemprego e miséria), pelas perseguições políticas e religiosas às quais muitos grupos e povos foram sujeitos, pelo desejo de encontrar condições de promoção social e pela simples curiosidade científica.
Estes movimentos demográficos geraram correntes de migrações internas e de emigração.

Migrações internas:
a) deslocações sazonais: movimentos temporários de populações que percorriam várias regiões atraídas por trabalhos próprios de cada estação do ano e de cada região.
b) êxodo rural: normalmente migrações definitivas do campo para a cidade, provocadas pela introdução de práticas capitalistas nos campos e pelo desejo individual de promoção social. Envolveu sobretudo as camadas jovens, provocando enormes implicações como a diminuição da população rural, o envelhecimento da população camponesa, o atraso e estagnação do mundo rural e o rejuvenescimento e carácter mais progressivo das cidades.
Emigrações:
a) dentro do espaço europeu, a tendência verificou-se sobretudo entre os países menos desenvolvidos e os mais industrializados, embora a fuga de situações de conflito, assim como factores de ordem política e religiosa pudessem acontecer.
b) fora do espaço europeu, os EUA, país abundante em terras e oportunidades e carenciado de homens, foram o principal destino dos fluxos emigratórios europeus. No final do século, também a América Latina, em especial o Brasil, que também se debatia com falta de mão-de-obra devido à expansão da cultura do café e à abolição da escravatura, recebe massas importantes de emigrantes portugueses, espanhóis e italianos.

1 comentário:

Anónimo disse...

JASUS!!!!!!!!!!




TENHO MAIS QUE FAZER STORA SOU DO 11º ANO TURMA 1(VIRA CASACAS)